A Música e a Síndrome de Williams




    A Síndrome de Williams é um transtorno neurogênico caracterizado pelo déficit nas habilidades viso espaciais, na atenção e concentração, déficit na resolução de problemas aritméticos, entre outros, e, em contrapartida, pela preservação de certas faculdades cognitivas complexas como a linguagem e em especial, a música. Durante muitos anos, o PhD Daniel J. Levitin e a Dra Ursula Bellugi, professora e diretora do Laboratory for Cognitive Neuroscience do SALK INSTITUTE for Biological Studies/San Diego/EUA, estudam a relação da música em pessoas com a Síndrome de Williams.
    Eles afirmam que pessoas com esta síndrome possuem todos os aspectos da inteligência musical precocemente desenvolvido. Essa constatação surgiu a partir de relatórios de autópsia em cérebros destes indivíduos. Verificou-se que seus cérebros eram vinte por cento menores do que cérebros de pessoas consideradas “normais”.
    Os lobos temporais eram normais ou, em algumas vezes, com tamanho acima do normal, caracterizando as fortes capacidades auditivas, verbais e musicais. Notou-se também que o córtex auditivo primário era maior e com modificações significativas ao nível do plano temporal, estrutura esta decisiva na percepção da linguagem verbal como da música.
    Os pesquisadores concluíram que as pessoas com SW processam a música de modo muito diferente, utilizando um conjunto muito mais amplo de estruturas neurais, sugerindo, portanto, que seus cérebros estão organizados diferentemente das pessoas que não possuem a síndrome. Outro estudo dos mesmos pesquisadores relata a respeito de três marcadores fenotípicos da função auditiva e musical nos SW: o rítmo, o timbre e a hiperacusia (sensibilidade ao som). Pesquisas experimentais foram conduzidas para comparar as habilidades rítmicas dos SW com as de indivíduos com desenvolvimento típico, indivíduos com Síndrome de Down e pessoas com Espectro Autista.
    Tal pesquisa levou a uma investigação tanto comportamental como o uso de neuroimagem. A pesquisa mostrou que os SW sofrem de algumas anormalidades auditivas: hiperacusia, forte fascínio auditivo, aversão auditiva, entre outros. A base neural para alguns destes comportamentos talvez seja a hiperexcitabilidade dos neurônios corticais. Experimentos de neuroimagem funcional e estrutural revelaram certas irregularidades na função e estrutura de regiões específicas da mente dos SW.
    Quando comparados a indivíduos com desenvolvimento típico, os com SW tendem a utilizar diferentes regiões de seus cérebros para processar o som e o ruído, com particular ênfase na ativação da amígdala. Diferenças na densidade da massa cinza e branca também foram observadas no cérebro dos SW. A pesquisa concluiu que a música faz parte de um pequeno conjunto de habilidades de domínios cognitivos, que parece estar preservada nos SW, o que inclui também, o processamento da linguagem.
    A observação mais importante a salientar é que os SW formam um grupo heterogêneo com relação à habilidade e realização musical. Seria falso afirmar que todos os SW são musicais. O que pode ser dito é que eles são mais propensos a expressar o amor pela música e a se envolver mais em atividades musicais, tanto criativas como receptivas.
    Segundo o Folheto Informativo sobre a SW da Revista Professional Española de Terapia Cognitivo-Conductual de 2004, alguns estudos realizados com ressonância magnética nuclear, comprovaram a possibilidade de certa base biológica. Tais ressonâncias mostraram que alguns indivíduos com a SW, apresentaram um aumento do plano temporal esquerdo, similar aos que se observam em músicos muito experientes, comprovando os estudos de Levitin e Bellugi. Outra pesquisadora que foca seus estudos na Síndrome de Williams é a PhD Marilee Martens da Ohio State University/EUA.
    Em uma pesquisa, dividida em dois estudos, realizada em 2011, Martens, juntamente com outros pesquisadores, procuraram verificar se a música poderia melhorar a memória verbal de pessoas com SW. Em ambos os estudos, realizado com 38 SW, foi apresentado uma tarefa de oito frases que deveriam ser faladas ou cantadas.
    Os resultados evidenciaram que os participantes que haviam tido aulas formais de música, obtiveram uma melhora significativa na tarefa de memória verbal quando as sentenças eram cantadas ao invés de faladas. Os resultados deste estudo forneceram a primeira evidência de que a experiência musical pode aumentar a memória verbal em pessoas com SW. 
    Meu contato com a Síndrome de Williams teve início no ano de 2011 quando conheci o adolescente M., na época com 12 anos, iniciando, com o mesmo, um trabalho musical na Escola Livre de Música Maestro João Sepe, na cidade de São Carlos/SP. 
    A partir desta experiência, ingressei no mestrado, em 2012, no Programa de Pós Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos/UFSCar, com o intuito de pesquisar a síndrome, especificamente sobre sua relação com a música, já que pesquisas com esta temática são escassas no Brasil.
    Esta pesquisa procura verificar como ocorre o aprendizado musical e como este pode ou não impactar nas habilidades sociais dos participantes com a Síndrome de Williams. Entrar no universo da Síndrome de Williams me fez perceber o quanto um trabalho de educação musical é importante para o desenvolvimento da autoestima, felicidade, das relações sociais e bem estar destas pessoas e seus familiares.
    Espero que o fruto final de minha pesquisa possa auxiliar todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão em contato com pessoas com a Síndrome de Williams. Gostaria de encerrar este artigo, manifestando meus agradecimentos à Associação Brasileira da Síndrome de Williams.

Escrito por: Valéria Peres Asnis

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